segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Quero você no tempo que for

"E nessa tentativa de voltarmos pra nós, você se perde mais e mais e eu não encontro o caminho de volta pra mim. Nossa história nos procura... Ronda. Sonda. Encontra a brecha, se espalha em nossas frestas, se instala desesperada no que sentimos, se agarra louca ao que podemos ser pra depois se rachar ao meio toda vez que você desperdiça o momento, toda vez que eu deixo que o instante se desman......che no teu medo. E o sentimento vira vento, movimento preso no gesto falho, no afeto que vira nó... Tanto ainda pra ser vivido, mas como se conta uma história que teima em não terminar, onde o sentimento ainda é tão grande que mata a vontade de acabar, que começou e não chegou ao fim, porque eu sei que não chegou e nem chegará.
Como se vive algo que se desmancha a cada palavra impensada, a cada silêncio de abismo, a cada fuga de si mesmo? E como se mata o que é tão vivo no lado de dentro e só saudade e poeira no lado de fora? E nessa busca incessantemente inerte, vou ensaiando sonhos de não te lembrar, você vai treinando fantasias de me esquecer... E vou colocando entre nós as reticências que você falou que havia na nossa história e me acovardo para colocar um ponto final.
Porque trago em mim todos os dias a nossa história, porque tenho a esperança em não terminar só, mas sim terminar a minha vida com... Você, seja no tempo que for."



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

JOANA - MENSAGEM PARA VC

Se você ama, diga que ama... e pronto!

Se você ama, diga que ama. Não tem essa de não precisar dizer porque o outro já sabe. Se sabe, maravilha… mas esse é um conhecimento que nunca está concluído. Pede inúmeras e ternas atualizações. Economizar amor é avareza. Coisa de quem funciona na frequência da escassez. De quem tem medo de gastar sentimento e lhe faltar depois. É terrível viver contando moedinhas de afeto. Há amor suficiente no universo. Pra todo mundo. Não perdemos quando damos: ganhamos junto. Quanto mais a gente faz o amor circular, mas amor a gente tem. Não é lorota. Basta sentir nas interações do dia-a-dia, esse nosso caderno de exercícios.
Se você ama, diga que ama. A gente pode sentir que é amado, mas sempre gosta de ouvir e ouvir e ouvir. É música de qualidade. Tão melodiosa, que muitas vezes, mesmo sem conseguir externar, sentimos uma vontade imensa de pedir: diz de novo? Dizer não dói, não arranca pedaço, requer poucas palavras e pode caber no intervalo entre uma inspiração e outra, sem brecha para se encontrar esconderijo na justificativa de falta de tempo. Sim, dizer, em alguns casos, pode exigir entendimentos prévios com o orgulho, com a bobagem do só-digo-se-o-outro-disser, com a coragem de dissolver uma camada e outra dessas defesas que a gente cria ao longo do caminho e quando percebe mais parecem uma muralha. Essas coisas que, no fim das contas, só servem para nos afastar da vida. De nós mesmos. Do amor.
Se você ama, diga que ama. Diga o seu conforto por saber que aquela vida e a sua vida se olham amorosamente e têm um lugar de encontro. Diga a sua gratidão. O seu contentamento. A festa que acontece em você toda vez que lembra que o outro existe. E se for muito difícil dizer com palavras, diga de outras maneiras que também possam ser ouvidas. Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá…

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Entregar-se

De todas as coisas que ouvi falarem sobre o amor, nenhuma admitia meia entrega. Ninguém meio que ama, ninguém meio que se entrega. Amar é desfazer-se de si, de fato. É tolice ter pavor de sair do chão receando retornar ao mesmo lugar de partida, um dia. Aviso: encontrar alguém não significa dar fim à sua busca, dizimar com seus problemas. Com o amor outros virão, troca-se apenas de pendengas, vão-se os amargos e azedos, vêm os salgados ou os demasiado doces. A cabeça entende quando é a alma quem implora baixinho.

Permita, não há outro jeito. Do contrário, não interromperá essa ciranda deprimente de gastar o que não tem, com programas e coisas de que não precisa, para agradar pessoas que você não ama e não te amam de volta. Te vejo aqui do alto, sentada numa nuvem equivalente ao ponto maior que uma doce entrega pode propiciar. Não vou enganar ninguém. Amar dói, mas nem sempre é igual. Na maioria dos dias, ele não queima, aquece simplesmente.

Você só precisa escolher entre uma estrada e outra. Se o amor é clichê, a falta dele é lugar-comum e viver é um abastado chavão de mal gosto. É preciso parar de soprar a chama que te faz brilhar mesmo em dias nublados, cantar alto nos eventos mais inadequados, provocar sorrisos bobos facilmente confundidos com engasgos. Você precisa parar com essa neurose de não querer saber a verdade, preocupado em não se machucar.

Talvez essa seja a maior besteira que já tenha dito, mas garanto a você, existem pares de muito mais infelizes do que eu, todos assim como você, brincando de casinha, caçando paixão, simulando alegrias, beijando por beijar ou transando por transar, o famoso "sem compromisso". Já tracei meu caminho faz tempo: mais vale fracassar vivendo as coisas do meu jeito do que vencer anulada, desfigurada, morta. Não entendo - ou não quero - esse seu medo de amar e ser feliz. É como atravessar o rio remando, num barco a motor.

Então, meu amor, estendo minha mão, morrendo de medo igualmente, sem levar nada tão a sério, ignorando toda vã filosofia de explicar sensações. Estou aqui no chão por você. Desci, pra mais tarde te acompanhar na subida. Venha preencher e pintar minha vida de caos, de dilatação, equações, sorte e até algumas mágoas. Mas não há de ser agora. Bem sei que deveria estar cansada, mas no seu caso, fatalmente, conseguirei abrir uma exceção.
 
 
 
 
 

terça-feira, 14 de junho de 2011

O que da vida não se pode descrever

Eu me recordo daquele dia. A professora de redação me desafiou a descrever o sabor de uma laranja. Era dia de prova e o desafio valeria como avaliação final. Eu fiquei paralisada por um bom tempo, sem que nada fosse registrado no papel. Tudo o que eu sabia sobre o gosto da laranja não podia ser traduzido para o universo das palavras. Era um sabor sem saber, como se o aprimorado do gosto não pertencesse ao tortuoso discurso da epistemologia e suas definições tão exatas.
 
Diante da página em branco eu visitava minhas lembranças felizes, quando na mais tenra infância eu adentrava nos laranjais dos sitios e fazendas na cidade interiorana "Colina" e via os nuances alaranjados com o inebriante aroma das flôres de larangeira. A cena era tão concreta dentro de mim, que eu podia sentir novamente a felicidade que já vivi.
 
 A vida feliz, parte miúda de um tempo imenso; alegrias alojadas em gomos caudalosos, abraçados como se fossem grandes amigos, filhos gerados em movimento único de nascer. Tudo era meu; tudo já era sabido, porque já sentido. Mas como transpor esta distância entre o que sei, porque senti, para o que ainda não sei dizer do que já senti? Como falar do sabor da laranja, mas sem com ele ser injusto, tornando-o menor, esmagando-o, reduzindo-o ao bagaço de minha parca literatura?

Não hesitei. Na imensa folha em branco registrei uma única frase. "Sobre o sabor eu não sei dizer. Eu só sei sentir!" Tirei um dez.

Eu nunca mais pude esquecer aquele dia. A experiência foi reveladora. Eu gosto de laranja, mas até hoje ainda me sinto inapta para descrever o seu gosto. O que dele experimento pertence à ordem das coisas inatingíveis. Metafísica dos sabores? Pode ser...

O interessante é que a laranja se desdobra em inúmeras realidades. Vez em quando, eu me pego diante da vida sofrendo a mesma angústia daquele dia. O que posso falar sobre o que sinto? Qual é a palavra que pode alcançar, de maneira eficaz, a natureza metafísica dos meus afetos? O que posso responder ao terapeuta, no momento em que ele me pede para descrever o que estou sentindo? Há palavras que possam alcançar as raízes de nossas angústias?

Não sei. Prefiro permanecer no silêncio da contemplação. É sacral o que sinto, assim como também está revestido de sacralidade o sabor que experimento. Sabores e saberes são rimas preciosas, mas não são realidades que sobrevivem à superfície.

Querer a profundidade das coisas é um jeito sábio de resolver os conflitos. Muitos sofrimentos nascem e são alimentados a partir de perguntas idiotas.

Quero aprender a perguntar menos. Eu espero ansiosa por este dia. Quero descobrir a graça de sorrir diante de tudo o que ainda não sei. Quero que a matriz de minhas alegrias seja o que da vida não se descreve... Apenas o que sinto. 
 
 

quarta-feira, 2 de março de 2011

"O que tem de ser, tem muita força”.



E tem gente maravilhosa que, de repente, vai ficando longe, difícil de ver, de falar... E aí acontece aquilo que chamamos de esquecimento.
Mas eu acredito também, que aquilo que é bom, e é de verdade, e é forte e importante: Seja – coisa ou pessoa, na nossa vida, isso não se perde... Se eterniza e será pra sempre nosso.
Desta forma vou acreditando em Guimarães Rosa, quando dizia que “o que tem de ser, tem muita força”.
A gente não tem é que se assustar com a distância e os afastamentos que durante a vida somos forçados a aceitar.”
Pois, o que for pra ser... SERÁ!


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O amor mais bonito

No instante que me iludo, é quando você me esquece. Quando volto à tona, você mergulha nos meus olhos. Se roubo rosas vermelhas para lhe dar, você faz "bem-me-quer". Quando hesito, é quando você já está na estrada.
Se me perco no teu beijo, você fica tentando encontrar um caminho. Quando me encho de receio, você me diz estar pronto. Eu te ponho em xeque-mate, você me diz que cansou de jogar. Quando não quero me machucar, você me telefona no meio da noite.
Eu vejo o sol nascer no mar, você se preocupa em não molhar os pés. Quando eu não durmo, é quando você sonha loucuras sobre nós dois. Quando sinto teu gosto na minha boca, você pede economia nos clichês. Se não quero parecer patética, você se diz um poema apaixonado.
Eu quero parar o tempo, você procura seu relógio embaixo da cama. Quando me escondo, é quando você me quer em cima de você. Se apresso meu passo na sua direção, você engata a marcha ré. Quando reúno meus pedaços, você dá o coração para bater.
Eu deito no seu colo, você se preocupa em fechar a janela. Quando me poupo, é o instante que você se dá de graça. Se ando em alta velocidade, você conta os níqueis pro pedágio. Eu perco as chaves, você insinua mudar pra minha casa.
Um amor físico, fatídico, real, raro e patente. Um amor que nasceu, mas nunca viveu.
Um amor que aconteceu, mas não foi ocupado. Daquelas comédias românticas que ninguém tem tempo de rir, pois já começa pelo final. Os amores mais bonitos são aqueles que nunca foram usados, mas que com o tempo se tornam desgastados.